ARQUEOLOGIA, de Marcelino Peixoto
Período da exposição: 12/07/2007 a 12/08/2007
As prospecções arqueológicas revelam novas
linguagens nas aquarelas de Marcelino Peixoto
![]() | Série de 11 telas traz impressionantes e desafiantes tramas de linhas e cores <> Foi durante o work-shop “Pintura Além da Pintura”, realizado pelo CEIA - Centro de Experimentação e Informação em Arte, na Casa do Conde/Funarte, em agosto e setembro do ano passado, que surgiu o atual trabalho. Numa parede daquele edifício, Marcelino mapeou os vestígios indiciais da atuação do tempo, como manchas, rachaduras, buracos de pregos, sucessivas demãos de tinta e até sujeiras provocadas por insetos, que mascaravam, mas não encobriam, os vários rastros deixados pela utilização daquele espaço ao longo de sua existência. O trabalho consistia em localizar as ocorrências de acidentes nas paredes, circundar e sitiar com linhas estes acidentes, expandir a circunferência até que ela se encontrasse com outra demarcação e aumentar a quantidade de tinta até que transbordasse e escorresse, formando um outro acidente. Dos pontos circundados linearmente com aquarela e nanquim reverberaram ondas que se fundiam em intersecções de cores e linhas. Em seguida, utilizando uma prática similar, o artista fez uma série de intervenções na orla da Lagoa da Pampulha, contornando de giz as sombras que as árvores e plantas projetavam nos passeios. A interferência do seu trabalho no cotidiano dos moradores de Belo Horizonte aguçou a curiosidade dos transeuntes. Ressaltando as marcas e sombras, Marcelino propunha um resgate de fatias do cotidiano, detalhes quase imperceptíveis no dia-a-dia da população. Essa prospecção “arqueológica” originou o trabalho que ele apresenta na Galeria de Arte Copasa. O intrigante resultado levou o artista a seguir a pesquisa em ateliê, transferindo tal experiência arqueológica para o suporte bidimensional, utilizando como base o papel próprio da aquarela, que é a sua especialidade. Ali, na superfície plana, sem os ‘acidentes’ prévios que marcam a parede ou os pisos, Marcelino Peixoto buscou imprimir a idéia, surgindo então uma nova linguagem. Esta linguagem, agora revelada na exposição de uma série de 11 telas, traz imagens onde superposições de manchas, linhas retas e curvas apresentam uma aquarela que, no ato da saturação, acaba por negar a tradicional forma de utilização de tal técnica. No cerne da pesquisa estão os acidentes, seus vestígios e os mapeamentos. Narrativas de cores e pureza de sensações - Nos trabalhos em grandes formatos (sete deles com 1,40x1,20m; e quatro com 1,20x1,00m), há uma explosão de cores e formas criadas, utilizando-se técnicas que ele traz da sua experiência como professor de Desenho e Pintura em algumas das mais prestigiadas escolas mineiras. As obras de ARQUEOLOGIA são, segundo o autor, narrativas de cores, desde os tons frios (verdes, azuis e violetas) até os quentes (vermelhos, amarelos e alaranjados). Nelas, não há espaço para o figurativo. A proposta é a pureza das sensações. As inumeráveis tramas das linhas marcam o caráter obsessivo desse trabalho infindável. “Quando termino, pergunto: para onde o trabalho deve seguir?”, reforça Marcelino. |
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Entre o isopor e a aquarela, ele utilizou um papel de pH neutro, para conter o excesso de umidade característico desta técnica. O resultado faz com que a aquarela aparente estar solta no fundo da caixa.
O autor não nomeou nem numerou as obras, para não induzir o espectador a nenhum caminho. Isto não significa que elas não tenham uma história para contar. “A força que a obra exerce sobre cada um dos que a ‘sofrem’ não é necessariamente a mesma. Ainda que exista uma proposição narrativa, a grande potência das imagens é seu caráter aberto”, avalia Peixoto.
Sobre a experiência, ele relata: “Quando a gente imaginava a aquarela como uma técnica estanque, presa aos seus próprios cânones de execução, aparece uma nova idéia que, negando as suas características usuais, revela a mobilidade da própria arte”. Marcelino conta que esta série tem novos desdobramentos, que já estão sendo executados em seu ateliê. “As obras mostram que o mundo e o universo da arte estão em contínua construção”, arremata.
MARCELINO PEIXOTO
Marcelino Peixoto nasceu em Alvarenga (MG), em 1971, mas reside em Belo Horizonte. Mestre em Artes Visuais e Bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes/UFMG, tem em seu currículo a atuação como professor dos cursos de Desenho (UFMG) e Arte e Restauro (Fundação de Arte de Ouro Preto/FAOP). Atua, também, no ateliê livre de Desenho e Pintura no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte. Recentemente, inaugurou seu próprio ateliê, no bairro Santa Efigênia, também na capital mineira.
Tem um extenso currículo acadêmico, com especializações em Arte-Educação, Ensino e Pesquisa no Campo da Arte e da Cultura, além de ministrar diversos work-shops e palestras em várias instituições culturais e educacionais.
No período de 2006 a 2007, dedicou-se a exposições e performances promovidas pelo Centro de Experimentação e Informação de Arte (CEIA), na Casa do Conde/Funarte, em Belo Horizonte; na FAOP, em Ouro Preto; e na galeria de arte do BDMG Cultural, também na capital mineira. No ano passado, em São Paulo, conquistou o Prêmio Max Feffer de Design Gráfico na Categoria Embalagem (projeto CD Incipt, criado em parceria com Viviane Gandra). Em 2007, foi artista selecionado pela Galeria de Arte Copasa.