<>>“O impuro e o contaminado instalam-se na sala de exibição e apontam para a ficção redobrada do material pictórico que se expande e se confunde numa mobília real. Os quadros já não criam espaços imaginados, já não abrem janelas para a paisagem, nem sequer para o interior. Os quadros são apenas quadros nas paredes de uma casa impossível, do simulacro de uma casa instalada numa galeria de arte”, de Maria Angélica Melendi.
>
De um lado, o processo de construir uma casa, a elaboração do projeto, a escolha dos móveis, de como o espaço será utilizado, as divisórias, os quadros, os adornos. Do outro, a inserção do homem nesse espaço, com suas escolhas, seus sonhos, suas paixões, seus sentimentos. E, por fim, a influência do mundo “lá fora” nesse recanto íntimo do ser humano.
Todas essas questões fazem parte do processo de criação do artista plástico Alan Fontes, que apresentou sua instalação “A Casa”, de 11 de outubro a 13 de novembro na Galeria de Arte Copasa. A exposição, selecionada no 4º Edital de Concorrência Pública da galeria, é resultado plástico do Projeto de Iniciação Científica “O Auto-Retrato Como Estratégia da Memória”, financiado pela Fapemig, cujo objetivo é também realizar um estudo teórico a respeito da presença da auto-imagem na arte contemporânea.
Orientado pela professora Dra Maria Angélica Melendi, “A Casa”, é a segunda fase do projeto, que foi dividido em três momentos. O primeiro resultou na exposição “A Cidade”, realizada no BDMG Cultural no primeiro semestre deste ano. A próxima etapa será a mostra “O Corpo”, ainda sem data definida.
Em “A Casa”, Alan mostra seis ambientes que funcionam como acessórios para o foco principal da exposição, que são as seis acrílicas sobre tela em grande formato (150 x 175 cm). A estilística é figurativa e naturalista, com elementos próximos da Pop Art. Os ambientes perpassam por alguns dos principais cômodos de uma casa-padrão, como o quarto, o quarto do bebê, a sala, a cozinha, o banheiro e a lavanderia. Em cada ambiente, móveis e objetos como estantes, tapetes, cadeiras, pufes e brinquedos, pintados de cinza, ampliam o campo da pintura e reforçam sua virtualidade.
Esse microuniverso criado por Alan Fontes é carregado de referências pessoais e artísticas. Os auto-retratos do artista decoram cada ambiente e observam o público tão atentamente como os espectadores, que são convidados a invadir sua privacidade. “Fiz uma casa com colagens de objetos que me pertencem ou que gostaria de ter”, diz Fontes. Esses objetos fazem parte da pesquisa do artista em lojas, revistas, livros de arte, exposições e residências de amigos e parentes. “É como se eu estivesse construindo uma casa a partir dessas referências”. E são muitas as referências encontradas nas “entrelinhas” dos quadros e ambientes.
Entre elas, as de artistas que Alan admira, como Rosangela Rennó, Felix Gonzáles Torres, Alessandro Lima, David Hockney, Beatriz Milhazes, Eugenio Paccelli, Anette Messager, Tom Wesselmann e Lucian Freud. O espectador mais atento perceberá esses elementos nas telas e ambientes. “Uma espécie de Casa Cor artística”, brinca.