A Galeria de Arte Copasa apresenta, até o próximo dia 2 de outubro, a exposição “China”, de fotos de Mariângela Chiari, selecionada no 4º Edital de Concorrência Pública. Trata-se da primeira exposição de fotografias a ser realizada na galeria, desde sua fundação, em julho de 2001. O material foi desenvolvido em 2001 e 2003, durante as duas viagens que a fotógrafa fez ao país oriental. Mariângela mostra 40 fotografias em preto e branco, coloridas e em infravermelho, a maioria no formato 40x60cm (emolduradas), uma instalação e objetos como estátuas, suvenires e livros. Um dos destaques é o “Livro Vermelho”, a famosa e rara cartilha comunista de Mao Tsé Tung, que não é encontrada nem mais no próprio país.

Haverá, ainda, a exibição de fotos inéditas, em grande formato, plotadas especialmente para esta exposição. Elas foram realizadas na província de Xinxiang (oeste da China), onde a população é em sua maioria muçulmana. A região faz parte da rota da seda, dentro do roteiro de Marco Pólo. Envolta em uma ambientação que cria um clima próximo do realismo, a exposição “China” é um dos raros momentos em Minas para se sentir, de perto, a evolução de um país que a cada dia ganha importância fundamental no cenário econômico mundial - com reflexos profundos inclusive, no Brasil e em nosso Estado.

Conversa com a artista

Mariângela Chiari nasceu em Belo Horizonte, em 1950. Formada em Letras (UFMG) e Jornalismo (UNI-BH), ela se dedica à fotografia desde 1979, com larga experiência no fotojornalismo. Sua primeira exposição aconteceu em 1998, no Espaço Cultural do Banco do Brasil, em Belo Horizonte. Já mostrou seus trabalhos em várias galerias da capital mineira, Tiradentes, Cataguases, Mariana, Ouro Preto, Juiz de Fora e Rio de Janeiro. Veja suas impressões sobre a China.

Pergunta – Qual a sua relação com a China?
Mariângela Chiari – Eu tinha um sonho antigo de conhecer os países do oriente, mais especialmente a China e o Japão. Em 2001, tive a oportunidade de conhecer a China pela primeira vez e voltei em 2003, para visitar o oeste do país e o Tibet, através de uma agência dev viagens norte-americana.

Pergunta – Como escolheu o roteiro da viagem?
MC – A agência oferece vários roteiros, mas todos incluem Beijing (Pequim) e Shanghai (Xangai). Eu e minha irmã Claudia, que também foi a minha assistente, escolhemos um roteiro menos óbvio. Ele incluía o passeio pelo rio Yangtsé, um dos mais importantes da China, onde pudemos conferir as obras da maior hidrelétrica do mundo, a de Três Gargantas.

Pergunta – Por que esse roteiro?
MC – Quando nós estávamos escolhendo o roteiro, lemos uma matéria dizendo que a Barragem de Três Gargantas iria inundar uma área onde estavam situados 400 municípios habitados por aproximadamente dois milhões de pessoas. Eu pensei: são 400 cidades que sairão do mapa, com suas tradições, seus costumes, num país com mais de 5.000 anos de história. Isso, para mim, daria um bom material para uma reportagem fotográfica.

Pergunta – Qual sua impressão da China?
MC – É de impacto. É tudo mega, é tudo enorme. A represa é imensa e vai alterar a vida de uma população quase do tamanho de Belo Horizonte. Eu fiquei impressionada com o choque entre o moderno e o tradicional, numa vizinhança invasiva. Além disso, naquele local seriam inundados inúmeros sítios arqueológicos e cidades históricas. Há, inclusive, uma corrida contra o tempo para desmontar os templos antigos, enumerando cada tábua, para remontá-los posteriormente em áreas mais altas, antes que a inundação chegue ao seu ponto mais alto daqui a alguns anos.

Pergunta – Como o povo está sentindo essas transformações?
MC –
Boa parte do povo está resistente, pois é muito ligada às suas raízes e tradições. Para se ter uma idéia, em algumas vilas às margens do Yangtsé a população ainda comercializa através do escambo, sem utilização de nenhuma moeda. Os mortos são enterrados nos quintais, pois não há lugares nos cemitérios. Em alguns lugarejos, eles estavam vendo pessoas louras ou com traços ocidentais pela primeira vez no grupo de turistas que nos acompanhavam.

Pergunta – Qual o momento mais emocionante da viagem?
MC – Até hoje eu me arrepio só de lembrar. O rio Yangtsé é muito poluído, mas possui afluentes maravilhosos, que são rasos e cristalinos. Num dos momentos da viagem, atravessamos um desses afluentes numa embarcação arcaica, puxada por quatro homens fortes, numa tradição centenária. Em determinado momento, o riozinho é envolto por grandes cânions. Ali, os homens entoam um canto muito bonito que reverbera nas pedras, como se fosse um grande eco. É de chorar de tão emocionante. Mais tarde, ficamos sabendo que esse canto tornou-se um verdadeiro brado de protesto contra o avanço da modernidade naquela região. Hoje, passados cinco anos, com certeza esses afluentes já foram tomados pelas águas da represa e a tradição foi extinta.

Pergunta – O que mostra a exposição?
MC – Além do que eu chamo de Bloco das Águas, mostrando o registro histórico das alterações que a represa está fazendo na paisagem chinesa, eu mostro o povo, a arquitetura e os costumes chineses. São fotos em preto e branco, coloridas e em infravermelho.

Pergunta – Que novidades são apresentadas nesta exposição da Copasa em relação a outras mostras que você já realizou sobre o mesmo tema?
MC – Além das 38 fotos e da instalação que compõem o acervo original, eu também exibirei fotos inéditas, em grande formato, mostrando cenas da viagem que fiz ao oestre da China e ao Tibet. Mostrarei, ainda, algumas peças que comprei no país, como pequenas estátuas e outros objetos que estarei expondo pela primeira vez. O objeto mais raro é o “Livro Vermelho”, de Mao Tsé Tung, cujo exemplar não é encontrado nem na China. Na abertura da exposição, ainda mostrarei um pouco da sonoridade da minha viagem, através de CDs que comprei naquele país.

Pergunta – Haverá textos explicativos para que o público entenda melhor a sua exposição?
MC – Eu encomendei ao escritor Ronaldo Werneck uma série de textos explicativos para cada uma das fotos, contando pequenas histórias sobre a viagem. Desta forma, poderei dividir com o público as minhas emoções.

Visita ilustre

Uma visita ao mesmo tempo inesperada e ilustre à Galeria de Arte Copasa, com a finalidade de conhecer a exposição de fotos sobre o seu país, foi a da conselheira de assuntos políticos da Embaixada da China, dra. Chang Dongzhen, recebida pessoalmente pela fotógrafa Mariângela Chiari, autora da exposição, que ciceroneou a conselheira em sua primeira visita a Belo Horizonte.

Dongzhen observou, atentamente, as explicações da fotógrafa, que registrou o povo chinês, seus costumes e tradições, monumentos históricos e a região onde está sendo construída a maior barragem do mundo, a de Três Gargantas. As fotos foram produzidas durante as viagens realizadas em 2001 e 2003. Segundo a conselheira, nem mesmo ela conhecia alguns pontos mostrados na exposição fotográfica. Dra. Chang, que estava na capital mineira para uma palestra sobre as relações políticas entre a China e o Brasil, a convite da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), tomou conhecimento da exposição e quis conhecê-la. “Esta exposição é muito importante para transmitir a amizade do povo brasileiro pelo povo chinês”, observou. “Muitos brasileiros, como Mariângela Chiari, estão fazendo uma ponte entre nossos países”.
 
Dongzhen disse que a China possui, atualmente, a maior embaixada do Brasil, além de ser o maior parceiro comercial da América Latina. Ela chegou ao Brasil em 1979, quando assumiu a função de adida cultural da Embaixada da China. Mas, depois de dois anos, voltou ao seu país. Retornou ao Brasil em 1985 para atuar no consulado da China, em São Paulo. Desde 2002 é conselheira de assuntos políticos da embaixada em Brasília. “Gosto muito do Brasil. O povo brasileiro é muito acolhedor, muito franco, muito trabalhador”, diz.

Ao final da visita, a dra. Chang Donghzen recebeu de Wagner Cosse, gerente de Relações Públicas e coordenador da Galeria de Arte Copasa, um kit contendo catálogos da exposição, folhetos institucionais e brindes da Copasa. A exposição China, de Mariângela Chiari, fica em cartaz na Galeria de Arte Copasa até 02 de outubro. Além de 40 fotos, a exposição traz objetos, como sapatos, leques, bonés e um raro exemplar do Livro Vermelho de Mao Tzé Tung, adquirido pela fotógrafa em um sebo na China. A exposição pode ser visitada diariamente de 8 às 18 horas, inclusive nos fins-de-semana.